sábado, 21 de abril de 2012

Bem-Aventurado os puros



nada do quer aprender o pouco com aqueles que foram vencedores do inferno
santo afonso de ligório sempre busca direcionar seus artigos e livros aos
sacerdote, mais dar pra extrair pra nós um pouco dessa virtude.



I. EXCELÊNCIA DA CASTIDADE

Ninguém melhor que o Espírito Santo saberá apreciar o valor da castidade. Ora,
Ele diz: "Tudo o que se estima não pode ser comparado com uma alma continente" (Ecli
26, 20), isto é, todas as riquezas da terra, todas as honras, todas as dignidades, não lhe
são comparáveis. Santo Efrém chama a castidade de "a vida do espírito"; São Pedro
Damião, "a rainha das virtudes"; e São Cipriano diz que, por meio dela, se alcançam os
triunfos mais esplêndidos. Quem supera o vício contrário à castidade, facilmente
triunfará de todos os mais; quem, pelo contrário, se deixa dominar pela impureza,
facilmente cairá em muitos outro vícios e far-se-á réu de ódio, injustiça, sacrilégio, etc.
A castidade faz do homem um anjo. "Ó castidade, exclama Santo Efrém (De
cast.), tu fazes o homem semelhante aos anjos". Essa comparação é muito acertada, pois
os anjos vivem isentos de todos os deleites carnais; eles são puros por natureza; as
almas castas, por virtude. "Pelo mérito desta virtude, diz Cassiano (De Coen. Int., 1. 6,
c. 6), assemelham-se os homens aos anjos"; e São Bernardo (De mor. et off., ep., c. 3):

"O homem casto difere do anjo não em razão da virtude, mas da bem-aventurança; se a
castidade do anjo é mais ditosa, a do homem é mais intrépida". "A castidade torna o
homem semelhante ao próprio Deus, que é um puro espírito", afirma São Basílio (De
ver. virg.).

O Verbo Eterno, vindo a este mundo, escolheu para Sua Mãe uma Virgem, para
pai adotivo um virgem, para precursor um virgem, e a São João Evangelista amou com
predileção porque era virgem, e, por isso, confiou-lhe Sua santa Mãe, da mesma forma
como entrega ao sacerdote, por causa de sua castidade, a santa Igreja e Sua própria
Pessoa.

Com toda a razão, pois, exclama o grande doutor da Igreja, Santo Atanásio (De
virg.): 'Ó santa pureza, és o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a coroa dos
Santos!".

Grande, portanto, é a excelência da castidade; mas também terrível é a guerra
que a carne nos declara para no-la roubar. Nossa carne é a arma mais poderosa que
possui o demônio para nos escravizar; é, por isso, coisa muito rara sair-se ileso ou
mesmo vencedor deste combate. Santo Agostinho diz (Serm. 293): "O combate pela
castidade é o mais renhido de todos: ele repete-se cotidianamente, e a vitória é rara".
"Quantos infelizes que passaram anos na solidão, exclama São Lourenço Justiniano, em
orações, jejuns e mortificações, não se deixaram levar, finalmente, pela concupiscência
da carne, abandonaram a vida devota da solidão e perderam, com a castidade, o próprio
Deus!"

Por isso, todos os que desejam conservar a virtude da castidade devem ter suma
cautela: "É impossível que te conserves casto, diz São Carlos Borromeu, se não vigiares
continuamente sobre ti mesmo, pois negligência traz consigo mui facilmente a perda da
castidade".


II. DA VIGILÂNCIA SOBRE OS PENSAMENTOS

1) A respeito dos maus pensamentos encontra-se, muitas vezes, um duplo
engano:
a) Almas que temem a Deus e não possuem o dom do discernimento e são
inclinadas aos escrúpulos, pensam que todo mau pensamento que lhes sobrevêm é já um
pecado. Elas estão enganadas, porque os maus pensamentos em si não são pecados, mas
só e unicamente o consentimento neles. A malícia do pecado mortal consiste toda e só
na má vontade, que se entrega ao pecado com claro conhecimento de sua maldade e
plena deliberação de sua parte. E, por isto, Santo Agostinho ensina que não pode haver
pecado onde falta o consentimento da vontade.
Por mais que sejamos atormentados pelas tentações, pela rebelião de nossos
sentidos, pelas comoções ou sensações desregradas de nossa natureza corpórea, não
existe pecado algum enquanto faltar o consentimento, como ensina também São
Bernardo, dizendo: "O sentimento não causa dano algum, contanto que não sobrevenha
o consentimento".

Para consolar tais almas timoratas e escrupulosas, quero oferecer-lhes aqui uma
regra prática, aceita por quase todos os teólogos: Quando uma alma que teme a Deus e
detesta o pecado, duvida se consentiu ou não em um mau pensamento, não está
obrigada a confessar-se disso, porque, em tal caso, se tivesse realmente cometido um
pecado mortal, não estaria em dúvida a esse respeito, porque o pecado mortal, para uma
alma que teme a Deus, é um monstro tão horrendo, que não poderá ter entrada em seu
coração sem o perceber.

b) Outros, que possuem uma consciência mais relaxada e são mal instruídos,
julgam, pelo contrário, que os maus pensamentos nunca são pecados, mesmo havendo
consentimento neles, contanto que não se chegue a praticar. Este erro é muito mais
pernicioso que o primeiro. O que se não pode fazer, não se pode também desejar; por
isso, o mau pensamento em si contêm toda a malícia do ato. Assim como as más obras
nos separam de Deus, também os maus pensamentos nos afastam d'Ele e nos privam de
Sua graça. "Pensamentos perversos nos separam de Deus" (Sab 1, 3). Como as más
obras estão patentes aos olhos de Deus, também Sua vista alcança todos os nossos maus
pensamentos para condená-los e puni-los, pois "um Deus de ciência é o Senhor, e diante
d'Ele estão patentes todos os pensamentos" (I Rs 2, 3).
2) Logo, nem todos os maus pensamentos são pecados, e nem todos os que são
pecados trazem em si o mesmo cunho de malícia. Devemos considerar três coisas
quando se trata de um pecado de pensamento, a saber: a sugestão, a deliberação e o
consentimento. Alguns esclarecimentos a esse respeito:
a) Sob a palavra sugestão entende-se o primeiro pensamento que nos incita a
praticar o mal que nos vem à mente. Esta instigação ou incitamento ainda não é pecado;
se a vontade a repele imediatamente, é mesmo uma fonte de merecimentos. "Para cada
tentação a que opuseres resistência, se te deverá uma coroa", diz Santo Antão. Até os
Santos foram perseguidos por tais pensamentos. São Bento revolveu-se sobre os
espinhos para vencer uma tentação impura, e São Pedro de Alcântara lançou-se em poço
de água gelada. São Paulo nos informa que também ele foi tentado contra a pureza: "E
para que a grandeza das revelações não me ensoberbesse, foi-me dado um espinho em
minha carne, um anjo de satanás para me esbofetear" (2 Cor 12, 7). O Apóstolo suplicou
várias vezes ao Senhor que o livrasse desse inimigo: "Por essa causa roguei ao Senhor
três vezes que o afastasse de mim". O Senhor não quis, porém, dispensá-lo do combate,
e respondeu-lhe: "Basta-te a minha graça". E por que não queria o Senhor livrá-lo? Para
que adquirisse maiores méritos por sua resistência à tentação: "Porque a virtude se
aperfeiçoa na fraqueza". São Francisco de Sales diz que quando um ladrão procura
arrombar uma porta, é porque não está ainda dentro da casa; assim também, quando o
demônio tenta uma alma, é porque se acha ela ainda na graça de Deus.
Santa Catarina de Sena foi uma vez horrivelmente atormentada pelo demônio,
durante três dias, com fortes tentações impuras. Apareceu-lhe então o Senhor para
consolá-la, e ela perguntou-lhe: - Mas onde estivestes, Senhor meu, durante estes três
dias? Jesus respondeu-lhe: Dentro do teu coração, dando-te força para resistires à
tentação. E o Senhor deu-lhe a conhecer que o seu coração estava, depois da tentação,
mais puro que antes.

b) À sugestão segue-se a deleitação. Quando nos damos ao trabalho de repelir
imediatamente a tentação, sentimos nela uma certa complacência ou prazer, que nos vai
arrastando ao consentimento. Mesmo então, se a vontade não dá seu assentimento, não
há pecado mortal; quando muito, poderá haver pecado venial. Se, porém, não
recorrermos então a Deus e não nos esforçarmos por resistir à tentação, facilmente nos
sentiremos arrastados ao consentimento e perdidos, segundo as palavras de Santo
Anselmo (De similit., c. 40): "Se não procuramos impedir a deleitação, ela se
transformará em consentimento e matará a alma".
Uma senhora, que tinha fama de santa, teve, um dia, um mau pensamento, que
não repeliu imediatamente, e pecou por pensamento. Por vergonha deixou de confessar
esse pensamento criminoso e morreu, pouco depois, em estado de pecado. Porque
morreu com fama de santidade, mandou o bispo que fosse sepultada em sua própria
capela. No dia seguinte, porém, apareceu-lhe ela, toda circundada de fogo, e confessoulhe,
infelizmente já tarde demais, que estava condenada por ter consentido num mau
pensamento.


c) Toda a malícia do mau pensamento está, porém, no consentimento. Havendo
pleno consentimento, perde-se a graça de Deus e chama-se sobre si a condenação
eterna, quer se tenha o desejo de cometer um pecado determinado, quer se pense ou
reflita com prazer no pecado como se o estivesse cometendo. Esta última espécie de
pecado chama-se uma deleitação deliberada ou morosa, e deve-se distinguir bem da
primeira, isto é, do pecado de desejo.
3) Se fores, pois, molestada por tais tentações, alma cristã, não deves perder a
coragem, antes, animosamente combater, empregando os meios que te vou indicar, e
não sucumbirás:

a) O primeiro é humilhar-se continuamente diante de Deus. O Senhor castiga
muitas vezes os espíritos soberbos, permitindo que caiam em qualquer pecado impuro.
Sê, pois, humilde, e não confies em tuas próprias forças. Davi confessa que caiu no
pecado por não ter se humilhado e ter confiado demais em si mesmo: "Antes de me
haver humilhado, eu pequei" (Sl 118, 67). Devemos temer sempre a nossa própria
fraqueza e colocar em Deus toda a nossa confiança, esperando firmemente que nos
preserve desse vício.

b) O segundo meio é recorrer imediatamente a Deus, sem entrar em diálogo com
a tentação. Logo que se apresentar ao nosso espírito um pensamento impuro, devemos
elevar a Deus imediatamente o nosso pensamento ou dirigi-lo a qualquer objeto
indiferente. A coisa melhor será invocar imediatamente os Santíssimos Nomes de Jesus
e Maria, e não cessar de repeti-los até desaparecer a tentação. Se ela for muito forte,
será bom repetir muitas vezes o seguinte propósito: Ó meu Deus, prefiro morrer a Vos
ofender. Peça-se socorro, dizendo: Ó meu Jesus, socorrei-me. Maria, assisti-me. Os
Nomes de Jesus, Maria e José possuem uma força especial para afugentar as tentações
do demônio.

c) O terceiro meio é a recepção assídua dos Santos Sacramentos da Confissão e
da Comunhão. É de suma importância revelar quanto antes ao confessor as tentações
impuras. "Uma tentação revelada já está meio vencida", diz São Filipe Néri. E se
alguém teve a infelicidade de consentir em uma tentação, não se demore nenhum
instante em se confessar disso. São Filipe Néri livrou um rapaz desse vício, induzindo-o
a confessar-se logo depois de cada queda.

A Santa Comunhão, está fora de dúvida, confere uma grande força na resistência
às tentações desonestas. O Sangue de Jesus Cristo, que recebemos na Sagrada
Comunhão, é chamado pelos Santos de 'Vinho gerador de Virgens' (Zac 9, 17). O vinho
natural é um perigo para a castidade; este Vinho Celestial é o seu conservador.

d) O quarto meio é a devoção à Imaculada Mãe de Deus, que é chamada a
Virgem das Virgens. Quantos jovens não se conservaram puros e castos como Anjos,
devido à devoção à Santíssima Virgem!

e) O quinto meio é a fuga da ociosidade. O Espírito Santo diz (Ecli 33, 21): "A
ociosidade ensina muita coisa má", isto é, ensina a cometer muitos pecados. E o profeta
Ezequiel (Ez 16, 49), assevera que foi a ociosidade a causa das abominações e ruína
final dos habitantes de Sodoma. Conforme São Bernardo, a ociosidade motivou a queda
de Salomão. Por isso São Jerônimo exorta a Rústico (Ep. ad Rust., 2) que esteja sempre
ocupado, para que o demônio não o preocupe com suas tentações. "Quem trabalha é
tentado por um demônio só; quem vive ocioso, é atacado por uma multidão deles", diz
São Boaventura.

f) O sexto meio consiste no emprego de todas as precauções exigidas pela
prudência, tais como a modéstia dos olhos, a vigilância sobre as inclinações do coração,
a fugida das ocasiões perigosas, etc.


tirado do livro tratado da castidade
Santo Afonso De Maria Ligório
pode ser  baixado   aqui



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