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A VOZ DO BOM PASTOR |
Do sacramento da eucaristia a exortação devota à sagrada comunhão
A VOZ DE JESUS CRISTO
Vinde a mim.todos os que viveis em trabalhos e estais oprimidos,e eu vos aliviarei
(Mt 11,28)
O pão que eu vos der é a minha carne que hei de dar pela vida do mundo (Jo 6,57)
tomai e comei;isto é o meu corpo que será entregue por vós fazei isto em minha memória
(Lc 22,19);(Cor 11,26)
O que come a minha carne e bebe o meu sangue está em mim e eu nele (Jo 6,57)
As palavras que vos digo são espírito e vida (Jo 5,64)
- São vossas essas palavras, ó Jesus, verdade eterna, ainda que não fossem proferidas todas ao mesmo tempo, nem escritas no mesmo lugar. Sendo vossas, pois, essas palavras e verdadeiras, devo recebê-las todas com gratidão e fé. São vossas, porque vós as dissestes; e são também minhas, porque as dissestes para minha salvação. Cheio de alegria as recebo de vossa boca, para que mais profundamente se me gravem no coração. Animam-se palavras de tanta ternura, atemorizam-me os meus pecados, e minha consciência impura me afasta da participação de tão altos mistérios. Atraime a doçura de vossas palavras, mas me oprime a multidão de meus pecados.
- Mandais que me
chegue a vós com grande confiança, se quero ter parte convosco; e que
receba o manjar da imortalidade, se desejo alcançar a vida e glória
eterna. Vinde, dizeis vós, vinde a mim todos que penais e estais
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Ó palavra doce e amorosa aos ouvidos
do pecador: vós, Senhor meu Deus, convidais o pobre e indigente à comunhão
de vosso santíssimo corpo, mas quem sou eu, Senhor, para ousar aproximarme
de vós? Eis que os céus dos céus não vos pode abranger, e dizeis: Vinde a
mim todos!
- Que quer dizer essa
condescendência tão meiga e esse tão amoroso convite? Como me atreverei a
chegar-me a vós,
- quando não
conheço em mim bem algum em que me possa confiar? Como posso acolher-vos
em minha morada, eu, que tantas vezes ofendi a vossa benigníssima face?
Tremem os anjos e os arcanjos, estremecem os santos e os justos, e vós
dizeis: Vinde a mim todos! Se não fosse vossa essa palavra, quem a teria
por verdadeira? Se vós o não ordenásseis, quem ousaria aproximar-se?
- Noé, o varão
justo, trabalhou cem anos na construção da arca para salvar-se com poucos:
como me poderei eu preparar numa hora para receber com reverência o
Criador do mundo? Moisés, vosso grande servo e particular amigo, fabricou
a arca de madeira incorruptível, e revestiu-a de ouro puríssimo, para
guardar nela as tábuas da lei; e eu, criatura vil, me atreverei a
receber-vos com tanta facilidade, a vós, que sois o autor da lei e o
dispensador da vida? Salomão, o mais sábio dos reis de Israel, levou sete
anos a edificar o templo magnífico, em louvor de vosso nome, e celebrou
por oito dias a festa de sua dedicação, ofereceu mil hóstias pacíficas, e
ao som das trombetas e com muito júbilo colocou a arca da aliança no lugar
que lhe havia sido preparado. E eu, o mais miserável de todos os homens,
como poderei receber-vos em minha casa, quando mal sei empregar meia hora
com devoção? e oxalá que uma vez sequer a houvesse empregado dignamente!
- Ó meu Deus, quanto
se esforçaram esses vossos servos para agradar-vos! Ai, quão pouco é o que
eu faço! Quão pouco o tempo que gasto em preparar-me para a comunhão!
Raras vezes estou de todo recolhido, raríssimo livre de toda distração. E,
todavia, na presença salutar de vossa divindade não me devia ocorrer
pensamento algum impróprio, nem eu me devia ocupar de criatura alguma,
pois vou hospedar, não a um anjo, senão ao Senhor dos anjos.
- Demais, há grandíssima
diferença entre a arca da aliança com suas relíquias e vosso puríssimo
corpo com suas inefáveis virtudes; entre aqueles sacrifícios da lei, que
eram apenas figuras do futuro, e o sacrifício verdadeiro de vosso corpo,
que é o cumprimento de todos os sacrifícios antigos.
- Por que, pois, se
me não acende melhor o meu coração na vossa adorável presença? Por que me
não preparo com maior cuidado para receber vosso santos mistério, quando
aqueles santos patriarcas e profetas, reis e príncipes, com todo o povo,
mostraram tanta devoção e fervor no culto divino?
- Com religioso
transporte dançou o piedosíssimo rei Davi diante da arca da aliança, em
memória dos benefícios concedidos outrora a seus pais; mandou fabricar
vários instrumentos musicais, compôs salmos e ordenou que se cantassem com
alegria, e ele mesmo os cantava muitas vezes ao som da harpa; ensinou ao
povo de Israel a louvar a Deus de todo o coração e angrandecê-lo e
bendizê-lo todos os dias, a uma voz. Se tanta era, então, a devoção e o
fervor divino diante da arca do testamento, quanta reverência e devoção
devo eu ter agora, e todo o povo cristão, na presença do Sacramento e na
recepção do preciosíssimo corpo de Cristo!
- Correm muitos a
diversos lugares para visitar as relíquias dos santos, e se admiram
ouvindo narrar os seus feitos; contemplam os vastos edifícios dos templos
e beijam os sagrados ossos, guardados em seda e ouro. E eis que aqui
estais presente diante de mim, no altar, vós, meu Deus, Santo dos santos.
Criador dos homens e Senhor dos anjos. Em tais visitas, muitas vezes é a
curiosidade e a novidade das coisas que move os homens; e diminuto é o
fruto de emenda que recolhem, principalmente quando fazem essas
peregrinações com leviandade, sem verdadeira contrição. Aqui, porém, no
Sacramento do Altar, vós estais todo presente, Deus e homem, Cristo Jesus;
aqui o homem recebe copioso fruto de eterna salvação, todas as vezes que
vos recebe digna e devotamente. Aí não nos leva nenhuma leviandade, nem
curiosidade ou atrativo dos sentidos, mas sim a fé firme, a esperança
devota e a caridade sincera.
- Ó Deus invisível,
Criador do mundo, quão maravilhosamente nos favoreceis, quão suaves e
ternamente tratais com vossos escolhidos, oferecendo-vos a vós mesmo como
alimento, neste Sacramento! Isto transcende todo entendimento, isto atrai
os corações dos devotos e acende o seu amor. Porque esses teus verdadeiros
fiéis, que empregam toda a sua vida na própria emenda, recebem muitas
vezes deste augusto Sacramento copiosa graça de devolução e amor à
virtude.
- Ó graça admirável
e oculta deste Sacramento, que só dos fiéis de Cristo é conhecida, mas que
os infiéis e escravos do pecado não podem experimentar! Neste Sacramento
se dá a graça espiritual, recupera a alma a força perdida, refloresce a
formosura deturpada pelo pecado. Tamanha é, às vezes, esta graça, que,
pela abundância da devoção recebida, não só a alma, mas ainda o corpo
fraco sente-se munido de maiores forças.
- É, porém, muito para chorar e lastimar a
nossa tibieza e negligência, o pouco fervor em receber a Jesus Cristo, em
quem reside toda a esperança e merecimento dos que se hão de salvar.
Porque ele é a nossa santificação e redenção, ele
o consolo dos peregrinos e o gozo eterno dos
santos. E assim é muito pra chorar o pouco caso que tantos fazem deste salutar
mistério, sendo ele a alegria do céu e a conservação de todo o mundo. Ó
cegueira e dureza do coração humano, que tão pouco estima esse dom inefável,
antes, com o uso cotidiano que dele faz, chega a cair na indiferença!
13. Pois, se esse augusto Sacramento se
celebrasse num só lugar e fosse consagrado por um só sacerdote no mundo, com
quanto desejo imaginas que acudiriam os homens a visitar aquele lugar e aquele
sacerdote a fim de assistir à celebração dos divinos mistérios? Agora, porém,
há muitos sacerdotes, e em muitos lugares Cristo é oferecido, para que tanto
mais se manifeste a graça e o amor de Deus para com os homens, quanto mais
largamente é difundida pelo mundo a sagrada comunhão. Graças vos sejam dadas,
bom Jesus Pastor eterno, que vos dignais sustentar-nos a nós, pobres e
desterrados, com vosso precioso corpo e sangue, e até convidar-nos, com
palavras de vossa própria boca, à participação desses mistérios, dizendo: Vinde
a mim todos que penais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei.ó fonte inesgotável de amor por isso vos louvamos e vos bendizemos
graças e louvores seja vos dada a todo momento a Jesus nosso Deus
no santíssimo digníssimo sacramento
fonte da imitação de cristo livro IV
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